04 fevereiro 2014

Vamos falar de coisas sérias...

Escrevo estas palavras no âmbito do dia que se comemora hoje, o Dia Mundial de Luta Contra o Cancro. Fui incentivada por uma amiga a encarar este desafio de frente e falar sobre o tema. Para ser sincera é bastante doloroso, mas este ano tenho motivos especiais para desabafar e há coisas que merecem ser celebradas. A vida merece ser celebrada. A Luta merece ser celebrada. Há palavras que têm de ser ditas para que as pessoas saibam. Há pessoas que têm de ser apoiadas, mais do que com palavras, com ações.

De há uns anos para cá várias pessoas próximas têm sucumbido a este drama. Foi muito difícil estar perto delas e saber que a guerra estava a perder-se, aos poucos. Foi pior ainda não ter a possibilidade de fazer algo significativo, de ser uma mera espectadora por vezes. Quando refletia sobre este mal que assola a minha família pensava sempre na minha querida mãe e pedia-lhe para ter cuidado e fazer os exames. É curioso como temos a tendência de pensar que estas coisas podem acontecer aos outros e nos esquecemos que não somos imunes só por sermos “jovens”.  E foi com grande choque que comecei a receber, uma a uma, as notícias das minhas amigas e conhecidas, com a minha idade, às quais foi diagnosticado cancro da mama.

Quero-vos falar de uma amiga em particular que encarou a sua Luta com uma coragem ímpar. Falo dela porque acompanhei o seu quotidiano mais de perto, mas na verdade todas elas merecem respeito pelas mais variadas coisas: por encararem isto praticamente sozinhas ou por irem trabalhar dia após dia com um sorriso na cara e simplesmente, mas mais importante ainda, por passarem por tudo sem nunca desistir. Os nomes aqui são meros pormenores, mas vocês sabem quem são…

A S. descobriu que tinha cancro ao fazer um exame de rotina. Desde os primeiros dias que encarou tudo com tanta garra e otimismo que eu cheguei a pensar que estaria em negação… que aquilo era uma fachada e que rapidamente se ia desmoronar. Mas com o tempo percebi que fui injusta e por isso peço agora desculpa. Sucederam-se os dias e os tratamentos pavorosos e eu nunca a ouvi lamentar-se, aliás, continuava a trabalhar as suas ideias e projetos como antes. E ainda que tenha pensado: “Porquê?”, nunca o disse à minha frente. Só dizia: “Ainda bem que descobriram tão cedo! Tive muita sorte. Vamos lá arrumar com isto”. Como é possível alguém estar a passar por algo tão complicado e dizer que teve sorte?

A T. por seu lado, outro caso de determinação, continuou a dar e receber formação, saia do IPO e lançava-se à estrada para mais um dia de trabalho. Só me dizia que a vida não pode parar e que ninguém faz as coisas por ela… isto com a maior das naturalidades.

Nestas alturas é impossível não nos colocarmos “nos sapatos” das outras pessoas mas a realidade normalmente bate com muito mais força do que qualquer ficção que possamos criar na nossa cabeça. A esta distância digo-vos sem reservas que eu não teria tamanha coragem e conheço muito poucas pessoas que encarem este tipo de coisas com tanta determinação como a S., a T. a P. e outras pessoas mais cujo nome desconheço. Orgulho-me imenso das Mulheres que são e de as poder chamar de Amigas.

É por isso que vos escrevo hoje, porque 2013 pregou-me alguns sustos grandes, mas dou graças, pois as “minhas” pessoas desta vez ganharam a sua luta. Mas acima de tudo quero que façam como eu, vão ao médico, façam exames. Percebam que um diagnóstico prematuro pode salvar vidas e por favor não adiem estas coisas tão importantes. 

Ah, e convençam as "vossas" pessoas a estar também atentas aos sinais, mulher prevenida vale por duas.


8 comentários:

  1. Dá parte que me toca um muito obrigada pelo elogio rasgado :)
    Beijo grande.

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    1. Beijinho Lemon, nada a agradecer, as coisas têm de ser ditas.

      Bjinhos

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  2. Obrigada por veres a mulher forte que tentei ser :D
    No início foi o susto, mas como se costuma dizer o que não tem remédio remediado está...
    Pensei na família e amigos, não os queria ver tristes, tal como não queria ficar triste, não queria ir abaixo por causa de uma partida que o meu corpo me pregou*
    Depois foi enfrentar!!!!
    Beijinhos*

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    1. És uma mulher de garra!
      É por essas e por outras que te adoro e estás no meu coração. :)

      Bjocas

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  3. Através da S. soube do caso da T., que embora não conhecendo, confirmo por estas palavras que são dois casos exemplares de força de viver e espírito positivo. Infelizmente também tenho, à minha volta, casos de familiares, amigos e conhecidos, a quem foi diagnosticado essa doença. Infelizmente também, alguns nem tiveram tempo para lutar...
    Considero-me uma pessoa positiva, mas é como dizes, nunca sabemos como vamos reagir a uma notícia destas. Penso sempre, e acima de tudo, na minha filha. Por essas e por outras, tento diariamente (faço mesmo esse esforço) de ser grata por TANTO de bom que tenho à minha volta e agradecer esses pequenos nadas, que para mim são o essencial: os abraços e mimos das pessoas que me querem bem e que eu adoro acima de tudo.
    BEIJOS PARA TI
    nunca mais nos juntamos...

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    1. Pois Art, eu acho que os filhos mudam a nossa perspetiva de muita coisa, mais do que pensámos à partida quando começámos a fazer planos :)
      E sim, um segredo é valorizar a metade cheia do copo e absorvê-la diariamente, sempre que nos seja possível, em vez de pensarmos no que não temos e gostariamos de ter/ser/poder.

      Beijos grandes!!
      Temos de combinar uma esplanada num dia de sol, vale?

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  4. Até fiquei "abananada" com o que li. Achamos sempre que as coisas não "batem à nossa porta" e que quando isso acontece, a probabilidade de voltar a acontecer não parece existir. Ainda bem que correu tudo bem nos casos que te rodeiam. :)

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  5. Obrigada pelo testemunho Jelly. É mesmo, pode ser que estas vivências nos ajudem a viver mais intensamente e a concentrar as nossas energias no que realmente importa.

    bjinhoss****

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